Por: Aymê Tavares / Cláudio Trindade
“Entre mais conhecimento a gente tem, mais poder nós temos em nossa vida e no nosso destino”. Esta frase reflete a influência da educação na vida da jovem venezuelana, de 17 anos, Sara Anyelis Brito. Com pouco mais de cinco anos no Brasil, a jornada de vida de Sara teve altos e baixos, mas que foram superados com esperança e o poder da educação.
Partindo da Venezuela, do estado de Anzoátegui, Sara seguiu rumo ao Brasil junto de sua mãe e irmãs. Com algumas expectativas sobre o país, a jovem esbarrou em algo que muitos outros refugiados e migrantes enfrentam: um novo idioma.
“Foi a primeira vez que eu tive um choque cultural, porque eu estava tentando falar com as pessoas no supermercado e elas não me entendiam”, relembra Sara.
Segundo a jovem, as dificuldades eram apenas obstáculos a serem superados. Havia grandes expectativas e o grupo familiar tinha vontade de aprender, de estudar e, logo, trabalhar no Brasil. Essa força de vontade se tornou ainda mais claro quando a mãe de Sara, Miriam Josefina, começou a trabalhar. Essa foi a oportunidade de uma nova vida e a realização de novos sonhos.

“A gente começou a melhorar a nossa situação econômica e, na verdade, tudo começou a melhorar. Isso se tornou não somente uma mudança em uma questão financeira, mas também uma mudança de mentalidade. Isso fez com que nós quiséssemos mais oportunidades. Foi aí quando eu comecei a me envolver mais com português”, relata Sara.
Foi através da busca pelo conhecimento que Sara viu um mundo de oportunidades se abrirem a sua frente e foi nesse caminho que ela chegou até o programa de Jovem Aprendiz. Sara comenta que sempre tinha escutado falar sobre o programa de aprendizagem e isso havia se tornado um de seus objetivos. “Eu quero aprender”, dizia para si mesma várias vezes quando pensava no seu futuro.
Integrando a turma de qualificação de jovens e migrantes venezuelanos, Sara deu um passo a mais nesse percurso educacional e de integração social. O programa de aprendizagem foi realizado através da parceria entre a AVSI Brasil, dentro do projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho, Senac-RR (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Roraima), Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (SETRABES-RR) e de Educação e Desporto de Roraima (SEED-RR).
“Eu acho que a educação é fundamental para todo mundo, porque através dela foi que eu melhorei como pessoa. Bem, eu aprendi a como me comunicar de uma maneira melhor. Eu não sou a mesma menina de quando eu cheguei aqui no Brasil, eu mudei muito. Um dos fatores que me fez mudar foi a educação, foi a oportunidade e o conhecimento”, destaca Sara.
Hoje, com uma eloquência muito mais fluída do português, Sara se enche de orgulho ao ver seus sonhos se tornando realidade, com ganas de seguir buscando sempre por sua melhoria pessoal e profissional. Ao longo prazo, a jovem já considera em qual faculdade ingressar.

“Bem, eu tenho duas opções. Ainda não sei se eu vou seguir uma delas, mas eu quero estudar psicologia ou relações internacionais. Eu tenho expectativas de conseguir falar outros idiomas, não somente o português, mas também o inglês, o francês, o italiano. Uma das minhas motivações é sempre aprender coisas novas”, relata.
Segundo Sara, o processo de adaptação cultural envolve muitas coisas e, assim, a vida acontece em um piscar de olhos, sendo preciso acompanhar essas mudanças. Quando questionada sobre estar preparada para o futuro, a jovem respondeu “tudo sempre vai passando e o mundo sempre vai evoluindo e você também vai evoluindo junto com ele”.
SOBRE O PROGRAMA DE JOVEM APRENDIZ
Em Boa Vista (Roraima), as aulas da turma de refugiados e migrantes venezuelanos do programa de Jovem Aprendiz aconteciam no Centro de Capacitação e Educação (CCE), através do projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho. O espaço foi criado em 2022, em parceria com a Força Tarefa Logística Humanitária da Operação Acolhida, do Governo Federal, como um espaço de apoio para a formação profissional de jovens e adultos.
Com as aulas iniciadas ao final de maio de 2024, o programa Jovem Aprendiz promove oportunidades para que os estudantes, entre 14 e 24 anos, tenham acesso ao conhecimento teórico e habilidades práticas junto a empresas parceiras e, assim, possam dar início a uma carreira no mercado de trabalho.

Para a instrutora do Senac para o programa de Jovem Aprendiz, Cíntia Dias, estar em sala de aula é um momento muito rico e de trocas de experiências.
“Não é um curso que a gente só ensina, a gente aprende junto com os jovens. E o que a gente aprende? É desde a persistência, da garra, da coragem, do primeiro emprego… Essas mudanças que a gente vai vendo nos jovens, durante um ano de curso, a gente percebe bastante, principalmente, o domínio da língua [portuguesa]”, relata Cíntia.
Ações como o programa de Jovem Aprendiz representam o apoio ao desenvolvimento centrado na pessoa, que integram e participam de maneira ativa da comunidade.