Por: Tayna Silva
“Aprendi que até o lixo pode virar vida. Isso me ensinou a valorizar cada oportunidade.” Reflete Hendry Rondón, de 43 anos, natural de Cidade Bolívar, Venezuela. Formado em Saúde Pública, Hendry migrou para Boa Vista–RR em busca de novas oportunidades, devido à crise econômica em seu país. “Decidi vir para o Brasil sem saber o que encontraria, mas sabia que precisava recomeçar”, relata.
Adaptação Cultural e Profissional
Sua trajetória de vida, cruzou com o trabalho da AVSI Brasil desde a fronteira, em Pacaraima–RR, Hendry foi recebido pela instituição, recebeu apoio e direcionamento. Mas foi em Boa Vista, capital de Roraima, que Hendry iniciou de fato sua trajetória dentro da organização. “Enviei currículos para diversos lugares até surgir a vaga no CETRO-BV. Não tinha experiência com compostagem, mas estava disposto a aprender,” relembra.
Sem fluência em português, as dificuldades iniciais na comunicação e na adaptação aos costumes locais foram grandes desafios. Com o apoio da equipe do Centro de Compostagem de Resíduos Orgânicos de Boa Vista (CETRO-BV), ele superou os obstáculos. “No início, não falava português e sentia dificuldade, mas a equipe me acolheu. Hoje, ensino espanhol aos colegas e aprendi a valorizar nossa diversidade,” conta.
Economia Circular
O CETRO-BV, um dos pilares do projeto Boa Vista Acolhedora — financiado pela União Europeia, com apoio da Fundação Banco do Brasil e coordenado pela AVSI Brasil em parceria com a Associação Amazônia Ecologia Integral — promove uma economia circular, regenerativa e inclusiva. Com foco na integração de migrantes, fortalecimento da agricultura familiar e redução de desigualdades, a iniciativa transforma resíduos orgânicos em adubo, impulsionando a sustentabilidade local.
O Centro de Compostagem de Resíduos Orgânicos de Boa Vista (CETRO-BV) disponibiliza uma publicação detalhada que explica seu processo de compostagem, desde o recebimento e triagem dos resíduos até a produção de adubo orgânico de alta qualidade, além de apresentar resultados alcançados, como a reciclagem de 1.369 toneladas de resíduos e a redução de 479 toneladas de CO₂ equivalente entre dezembro de 2023 e outubro de 2024. O documento também destaca o impacto social da iniciativa, incluindo a integração de migrantes venezuelanos e agricultores familiares.
Hendry integra uma equipe multicultural composta por nove colaboradores (cinco venezuelanos e quatro brasileiros). Desde 2023, o centro processou 1.369 toneladas de resíduos (376 toneladas de alimentos e 993 toneladas de podas), evitando que esses materiais fossem destinados a aterros e contribuindo para a redução de 479 toneladas de emissões de CO₂. O adubo orgânico produzido, cerca de 45 toneladas por mês, beneficia agricultores familiares da região.
Processo de Compostagem e Aprendizado Constante
Para Hendry, que chegou ao Centro de Compostagem sem nenhum conhecimento sobre o processo, trabalhar no local é um aprendizado constante. No CETRO-BV, ele participa ativamente de todas as etapas do processo de compostagem, desde a triagem dos resíduos — frutas, legumes e restos alimentares — até o monitoramento das leiras, controlando temperatura e umidade. “No início, tudo era novo. Achava que resíduos eram apenas lixo, mas hoje entendo que são matéria-prima para adubo orgânico,” afirma.
Em 2024, um episódio de tensão marcou a trajetória de Hendry no Centro: um incêndio involuntário atingiu uma área próxima ao centro de compostagem e ameaçou a segurança das instalações. “Foi tenso. Trabalhamos juntos para controlar a situação e ligamos para os bombeiros.” A equipe agiu rápido e conseguiu conter as chamas antes que chegassem ao Centro-BV. A situação foi superada com êxito e fortaleceu o sentimento de pertencimento e união entre os colaboradores. “Aprendi que, em equipe, superamos qualquer crise,” relata.
Futuro Sustentável
Saber que meu trabalho ajuda a cultivar alimentos saudáveis me motiva. É como devolver à terra o que ela me deu: uma segunda chance,” reflete. Alinhado ao eixo Cidades Inclusivas e Resilientes da AVSI Brasil, o Centro promove a integração de migrantes e a economia circular. “Antes, as pessoas misturavam todo o lixo. Hoje, separam os orgânicos. Isso não só protege o meio ambiente, mas cria uma cultura de responsabilidade coletiva,” enfatiza.
Para ele, o centro é mais do que um emprego — é um símbolo de renascimento. “Migrei para reconstruir minha vida, e aqui renasci. Mostro a outros migrantes que é possível transformar resíduos em recursos e dificuldades em oportunidades,” conclui.
Em 2024, a AVSI Brasil beneficiou 75 pessoas diretamente e impactou outras 80 indiretamente por meio do Centro de Compostagem — Boa Vista Acolhedora, em Roraima, promovendo soluções sustentáveis para o gerenciamento de resíduos no âmbito de Cidades Inclusivas e Resilientes. Além disso, o projeto Boa Vista Urban95 Lighthouse City — também do tema Cidades Inclusivas e Resilientes — impactou mais de 400 mil pessoas. Esses projetos cumprem o objetivo de apoiar Boa Vista na promoção do desenvolvimento urbano integrado, inclusão social e participação ativa das comunidades na construção de cidades mais sustentáveis.
Entrevista: Bruna Norales e Aymê Tavares–RR
