Por: Tayna Silva Marcelo
O terceiro dia do XV Encontro Formativo da AVSI Brasil, realizado em 7 de agosto, focou nas conexões entre o setor privado e o terceiro setor, ressaltando a sustentabilidade socioeconômica e ambiental como base para o desenvolvimento. Moderado por Jacopo Sabatiello, a programação teve painéis e debates que mostraram modelos de parceria, repertórios de projetos inovadores e o impacto direto nas comunidades atendidas.
Energia e desenvolvimento
Pela manhã, representantes das concessionárias ENEL e Neoenergia, além do Grupo AFD (Agência Francesa de Desenvolvimento), compartilharam experiências em projetos de eficiência energética voltados à populações de baixa renda.
Márcia Masotti, diretora de Sustentabilidade da ENEL, e Daniel Sarmento de Freitas, da Diretoria Institucional de Eficiência Energética da Neoenergia, apresentaram metodologias e serviços que garantem o acesso seguro e sustentável à energia, destacando a importância das parcerias com o terceiro setor para ampliar o impacto. Guilherme Meira, da AFD, também participou do painel, abordando a atuação da agência em iniciativas de transição energética.
O debate trouxe reflexões sobre o acesso à energia elétrica em contextos de vulnerabilidade, a importância dos projetos de eficiência energética e estratégias para mitigar impactos ambientais. Também foi destaque a urgência da transição para fontes limpas e renováveis, como solar e eólica.

Para Márcia, o papel dos colaboradores nos projetos de eficiência energética é essencial para conectar os beneficiários às soluções e contribuir com metas mais amplas de sustentabilidade: “Falando sobre protagonismo, cada um de vocês, colaboradores, está contribuindo de alguma forma para o atingimento do net zero no Brasil. Acho que temos caminhos possíveis, e até 2050 a gente chega lá. A eficiência energética é fundamental, não só para o setor de energia, mas para todos os setores.”
A diretora de sustentabilidade da ENEL também reforçou a importância da atuação da AVSI Brasil nos territórios: “A gente reconhece que a presença da AVSI no território é importante. Vocês trazem ajustes, novas formas, resultados. A gente não quer só quantidade de beneficiários. O que importa é o resultado, o impacto na vida das pessoas.”
Daniel Sarmento complementou: “Essa presença da AVSI nas comunidades traz uma contribuição muito grande: ela nos ajuda a tornar tangíveis os ganhos sociais dos programas realizados, o que é essencial para defender uma evolução na regulamentação.”
Sustentabilidade socioeconômica ambiental para o desenvolvimento
No painel, participaram João Raful, Vice-Presidente de Recursos Humanos da Acelen; Marcus Brier, Diretor de Comunicação Corporativa, Relações Públicas e Filantropia da Stellantis para a América do Sul; e Milena Rosa, Gerente de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Schneider Electric na América do Sul. A conversa girou em torno da importância dos investimentos sociais privados, especialmente por meio de leis de incentivo, e da capacidade de adaptação das empresas diante de cenários globais instáveis.

Milena destacou o processo interno de convencimento para que a Schneider Electric utilizasse os recursos incentivados, enfrentando resistências baseadas em receios com a reputação das instituições parceiras. A solução encontrada foi investir na qualificação dessas organizações, conectando os projetos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com isso, a empresa ampliou o impacto das iniciativas sociais nos últimos anos.
Marcus abordou a necessidade de governança para garantir que os projetos incentivados estejam alinhados à missão da empresa e respeitem critérios de compliance. Segundo ele, os comitês internos da Stellantis atuam de forma transversal, avaliando a legitimidade dos proponentes e a conexão com os territórios onde a empresa atua. O uso estratégico dos incentivos, segundo ele, evita sobreposição de investimentos e garante respostas mais ágeis às demandas sociais locais.
João Raful reforçou que a ACELEN atua com convicções firmes mesmo em cenários incertos. Ele defendeu que o impacto social deve ser planejado com começo, meio e fim, conectado à missão da empresa, o que garante sua continuidade mesmo em tempos difíceis.
Em suas palavras: “O grande ganho do investimento social e da parceria com o terceiro setor, sobretudo com alguém muito competente como a AVSI, é ter o tema social como um ponto de atenção para a empresa, um item de gestão da companhia.”
O repertório de projetos AVSI Brasil
Mediado por Ilana Peixoto, assessora estratégica da AVSI Brasil, o painel apresentou um panorama da atuação da organização em diferentes territórios e agendas. As falas trouxeram à tona metodologias que respondem de forma concreta a desafios globais como migração forçada, proteção da infância, geração de renda e sustentabilidade ambiental.
Viva Sabiá, apresentado por Wildna do Nascimento, destacou o trabalho em territórios de Caatinga com foco em meio ambiente, convivência com o semiárido e protagonismo comunitário. O projeto propõe um modelo de desenvolvimento integrado, articulando saberes tradicionais, agroecologia e estratégias de adaptação climática.

O Centro de Tratamento de Resíduos Orgânicos de Boa Vista (CETRO-BV), apresentado por Juliana Leitão, mostrou como a economia circular pode ser ferramenta de inclusão social. O projeto envolve a compostagem de resíduos orgânicos e gera empregos para migrantes e brasileiros em situação de vulnerabilidade. A experiência une gestão ambiental, renda e formação técnica, com impacto direto na segurança alimentar de famílias atendidas.

O projeto de proteção integral a crianças e adolescentes desacompanhados e separados (UASC), apresentado por Kamyla Ferreira, chamou atenção para a centralidade da escuta, da documentação e da articulação com a rede local de proteção. A proposta rompe com respostas padronizadas e aposta na construção de percursos personalizados de cuidado. “Esses adolescentes não são números num fluxo migratório. São sujeitos em processo de emancipação que precisam ser reconhecidos, não descartados”, afirmou Kamyla.
A Casa Bom Samaritano, coordenada por Graziella Guimarães, revelou como a cogestão com famílias migrantes transforma a lógica do acolhimento institucional. As famílias participam da limpeza, da horta, do preparo das refeições e das decisões coletivas. Ex-acolhidos voltam como voluntários para apoiar novos grupos. Em três meses, com apoio à inserção laboral e escolar, os núcleos familiares retomam sua autonomia e saem fortalecidos para recomeçar suas vidas.
O Centro de Capacitação e Educação (CCE), apresentado por Jéssica Monteiro, iniciativa vinculada ao projeto Acolhidos por Meio do Trabalho, atua em Boa Vista com formação profissional e apoio à interiorização. A metodologia parte do protagonismo dos estudantes e da escuta ativa da comunidade e das empresas contratantes. “O curso não nasce pronto. A gente pergunta o que a comunidade quer aprender, e o que já sabe. Isso valoriza saberes prévios e abre caminho para novas oportunidades”, explicou Jéssica.
O dia terminou com depoimentos de colaboradores e beneficiários, que reforçaram a importância da confiança, pertencimento e co-responsabilidade no trabalho da AVSI Brasil. Os colaboradores convidados para contar seu percurso na AVSI Brasil foram Heli Mansur, Silvana Moreira, Graziela Guimarães, Déborah Amaral e Ana Bianchi As histórias evidenciaram o efeito direto das ações da organização nas pessoas e comunidades atendidas.
