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Diagnóstico do Solo e da Água fortalece a Agricultura Familiar no Salitre - BA

Projeto destaca fortalecimento produtivo de 50 famílias com apoio técnico e acesso a informações sobre o solo e a água

Por: Tayna Silva e Dimicaele Borges

No semiárido baiano, entre comunidades isoladas e desafios de produção, agricultores familiares do território do Salitre estão transformando sua relação com a terra por meio do acesso a informações técnicas sobre o solo e a água. A iniciativa faz parte do Projeto de Aceleração da Agricultura Familiar do Salitre, uma ação financiada pelo Banco do Nordeste com patrocínio da Enel Green Power e executada pela AVSI Brasil.

Implantado em julho de 2024, o projeto dá continuidade ao trabalho iniciado em 2021 com o “Semiárido Sustentável – Desenvolvimento do Salitre”, que levou tecnologias sociais como cisternas, bioáguas e saneamento básico para diversas comunidades rurais de Juazeiro – BA. Nesta segunda fase, 50 famílias passaram a entender com mais clareza as características de suas propriedades e a tomar decisões mais seguras sobre o que plantar, como adubar e como cuidar da produção.

Durante a execução, a equipe técnica percebeu uma lacuna importante: 98% dos agricultores nunca haviam feito qualquer tipo de análise do solo ou da água. Muitos acreditavam que o procedimento era caro, difícil e inacessível. “Eles achavam que era algo de mil, dois mil reais… não sabiam onde fazer nem como coletar a amostra”, relata Marcele Andrade, gerente do projeto. O impacto, segundo ela, “é uma mudança completa na forma de decidir o que plantar, quanto adubar e como cuidar da terra”.

A análise não estava prevista inicialmente no plano de trabalho. “O que prevíamos era assistência técnica, mentoria e recursos para melhoria de infraestrutura. Mas quando aplicamos o questionário e vimos o desconhecimento técnico sobre o solo, decidimos redirecionar parte do recurso para isso”, explica Marcele. “Era uma demanda invisível, mas urgente.”

Embora a nova fase do projeto tenha iniciado em julho de 2024, foi em fevereiro de 2025 que a análise de solo e água começou a ser aplicada nas propriedades. A proposta veio suprir o desconhecimento dos agricultores sobre as características do solo que cultivam. Sem essas informações, os produtores não sabiam quais culturas eram mais adequadas ou como manejá-las de forma sustentável.

Com o apoio do técnico agroecológico Josevaldo Júnior, foram coletadas amostras de solo e água nas propriedades acompanhadas. O processo envolveu orientação em campo, participação ativa dos agricultores e envio para um laboratório especializado. “Eles mesmos colocavam a mão na massa. A ideia é que futuramente saibam fazer isso sozinhos, de forma autônoma”, afirma Marcele.

Um exemplo prático dessa transformação vem da terra de seu Nerivaldo, agricultor da comunidade Pedreira – Juazeiro – BA. Com o apoio do projeto, ele descobriu detalhes importantes sobre sua terra e a água que usa na irrigação.

“A reação mais comum era: ‘qual adubo eu uso agora?’ Muitos utilizavam adubação sem saber a necessidade nutricional da planta. Aplicavam fertilizantes mesmo com o solo saturado de determinado nutriente, o que gera perda e desperdício. Com o resultado da análise, conseguimos indicar com precisão o que aplicar e quanto aplicar”, explica Josevaldo Júnior, técnico agroecológico do projeto.

O solo estava com pH alto (alcalino), o que dificulta a absorção de nutrientes pelas plantas. Também tinha pouca matéria orgânica, o que indica uma terra pouco fértil e que precisa de mais vida.

Alguns nutrientes essenciais, como fósforo, ferro, cobre e zinco, estavam baixos e precisam ser reforçados com adubação. Já o cálcio e o magnésio estavam em excesso e precisam ser ajustados. A terra foi classificada como “franco-arenosa”, o que significa que drena rápido e pode precisar de ajuda para reter água.

A análise da água mostrou que ela tem salinidade alta e é muito dura (tem muitos sais minerais). Isso exige cuidado na irrigação para não prejudicar o solo com o tempo. Com tudo isso mapeado, seu Nerivaldo agora sabe exatamente o que sua terra precisa, e pode cuidar melhor da produção, economizando e colhendo mais.

“O agricultor não vai entender o que é nitrogênio, fósforo, potássio, mas sabe qual é o adubo 20-00-20, por exemplo. Então traduzimos o laudo técnico para uma linguagem mais prática: explicamos quais adubos já conhecidos têm os nutrientes que faltam no solo dele. Fizemos a devolutiva de forma simples, dizendo o que está alto, o que está baixo e como corrigir”, explica Junior.

“Eu achei que a adubação melhorou, viu? Antes já tinha dado uma melhorada, mas agora, depois da explicação que ele (técnico) deu, ficou melhor ainda. Ele deixou uns papéis com as orientações, aí eu fico olhando e seguindo pra fazer a adubação certinho. Achei que o maracujá desenvolveu mais, ficou melhor. Até agora, o que eu fiz mesmo foi só a adubação. Não usei outro tipo de produto ainda. Estou limpando a banana, e depois que terminar, vou colocar o adubo nela também. No maracujá, já estou usando do jeito que ele explicou.” conta Nerivaldo.

Marcele destaca o envolvimento de Nerivaldo no projeto: “Ele é muito participativo. Disse pra gente: ‘só de vocês virem aqui, conversar, explicar, isso já é o mais importante pra mim’. Nunca tinha feito análise de solo antes, mas agora ele já sabe  coletar e entende a importância.”

A relação de confiança construída com os agricultores é diária. O acompanhamento técnico segue de forma constante, com apoio presencial e à distância. “Usamos o grupo de WhatsApp do projeto como um canal ativo. Eles mandam foto, tiram dúvida, e o técnico orienta ali mesmo ou faz uma visita.”