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Do Lixo ao Adubo: Juventude Baiana Inova na Sustentabilidade

Vencedora do concurso desenvolvido pela AVSI Brasil, a equipe formada por três jovens do ensino médio, transforma resíduos de casas de farinha em soluções sustentáveis na Bahia.

Por: Tayna Silva

No povoado de Tiquara, em Campo Formoso, Bahia, três jovens estudantes do Colégio Estadual Professora Hilda Monteiro Menezes encontraram uma maneira inovadora de lidar com um problema que afeta sua comunidade há anos: o descarte inadequado de resíduos das casas de farinha. Liliane Pereira da Silva, Ana Leila de Souza dos Santos e Adrielly da Silva Santos, integrantes da equipe Eco Futuro, desenvolveram um projeto que transforma cascas de mandioca e manipueira (líquido residual) em adubo e biofertilizante. A iniciativa rendeu a elas o primeiro lugar no concurso Projetando o Futuro.

Incentivo de Projetos Ambientais entre Jovens

Projetando o Futuro foi uma iniciativa implementada em 2024 para incentivar estudantes do Ensino Médio (1º ao 3º ano) da rede pública, com idades entre 15 e 19 anos, a refletirem sobre os desafios socioambientais em suas comunidades. Ao longo de seis meses, de junho a dezembro de 2024, a iniciativa mobilizou 6 municípios da Bahia — Campo Formoso, Catu, Maracás, Planaltino e Pojuca —, envolvendo 6 Secretarias Municipais de Educação, a Secretaria Estadual de Educação e 11 colégios estaduais.

Foram realizadas 6 Maratonas Ambientais, com a participação de 21 professores mentores, 60 equipes e 182 estudantes, resultando no desenvolvimento de 60 projetos ambientais. Desses, 18 foram selecionados como finalistas.  com destaque para a equipe Eco Futuro, de Campo Formoso, que apresentou o projeto “Reaproveitamento de resíduos sólidos das casas de farinha”.

Protagonismo Juvenil em soluções ambientais

A ideia para o “Reaproveitamento de resíduos sólidos das casas de farinha”. surgiu após uma reunião com a professora mentora Joselita dos Santos Batista, que incentivou as alunas a observarem os problemas ambientais da comunidade. “Inicialmente, pensamos em abordar o lixão, mas percebemos que as casas de farinha geravam um impacto ambiental grande e pouco visível”, explica Liliane, de 17 anos. A partir daí, as jovens começaram a pesquisar artigos e técnicas de compostagem e fermentação, buscando uma solução viável para o problema.

O projeto foi dividido em etapas. A primeira fase consistiu em um piloto em uma casa de farinha, seguido de testes de viabilidade e a criação de um manual de procedimentos para expandir a iniciativa. “Queremos conscientizar os trabalhadores sobre práticas sustentáveis e, ao mesmo tempo, gerar renda local com a venda de adubo e biofertilizante”, afirma Ana Leila, de 17 anos.

O processo de reaproveitamento dos resíduos envolve técnicas de compostagem simples e fermentação, que as alunas aprenderão em um curso no SENAI. Além disso, a equipe contará com apoio técnico da Ferbasa, instituição parceira da AVSI Brasil e patrocinadora da iniciativa, para implementar o projeto em escala maior.

Consciência Ambiental nas Escolas

Para a professora Joselita, a dedicação das alunas foi fundamental para o sucesso do projeto. “Elas são proativas, curiosas e têm um potencial incrível. Orientá-las foi fácil porque estavam sempre dispostas a aprender e a buscar soluções”, destaca. A educadora também ressalta a importância de projetos ambientais nas escolas para despertar a consciência dos jovens sobre os problemas locais. “Essas iniciativas mostram que os alunos podem ser protagonistas de mudanças reais em suas comunidades”, afirma

Joselita relembra o início do projeto, quando o concurso foi apresentado à escola. “Quando o projeto ‘Projetando o Futuro’ chegou à escola, por meio da coordenação da AVSI Brasil e da Ferbasa, vi uma oportunidade de engajar os alunos em algo que pudesse realmente fazer a diferença. Formei duas equipes de três alunos cada, observando as características e o potencial de cada um. A equipe Eco Futuro se destacou pela determinação e pela vontade de aprender, e a outra equipe também teve um desempenho brilhante, conquistando o segundo lugar”, conta.

A professora também destacou o processo de orientação. “Foi uma experiência gratificante. As meninas eram muito atenciosas e sempre traziam novas ideias. Eu as incentivava a acreditar no potencial delas e a buscar conhecimento. Elas não tinham medo de perguntar e estavam sempre dispostas a ir além”, relata Joselita.

Ela ainda menciona que o trabalho em equipe foi um dos pontos fortes do grupo. “Cada uma delas tinha habilidades complementares, o que facilitou o desenvolvimento do projeto. A comunicação entre elas era muito boa, e isso foi essencial para o sucesso.”

Exemplo para a Comunidade: Impacto Positivo e Expansão do Projeto

A vitória no concurso foi uma surpresa para as jovens. “Fomos ao evento com o intuito de aprender e nos inspirar. Quando anunciaram nosso nome, foi uma mistura de felicidade e surpresa”, conta Liliane. Agora, a equipe espera que o projeto tenha um impacto positivo na comunidade, melhorando a gestão dos resíduos e trazendo benefícios econômicos. “Queremos que essa ideia se expanda para outras regiões, especialmente onde há atividades similares de casas de farinha”, diz Ana Leila.

Joselita também compartilha sua visão sobre o impacto futuro do projeto. “Acredito que essa iniciativa pode ser um modelo para outras comunidades. O reaproveitamento de resíduos sólidos não só reduz o impacto ambiental, mas também gera oportunidades econômicas. As meninas estão mostrando que é possível conciliar sustentabilidade e desenvolvimento”, afirma.

Ela ainda ressalta a importância da conscientização da comunidade. “O próximo passo é educar os trabalhadores das casas de farinha sobre os benefícios do reaproveitamento. As alunas já estão planejando campanhas de conscientização e reuniões na associação da comunidade para disseminar essas práticas.”

Sustentabilidade a Longo Prazo

Além do prêmio em dinheiro no valor de 5 mil reais, destinado ao desenvolvimento do projeto e do apoio técnico, as jovens ganharam algo ainda mais valioso: a certeza de que pequenas ações podem gerar grandes mudanças. “A mensagem que deixamos para outros jovens é que eles acreditem no seu potencial e não subestimem o poder da mudança. Pequenas ações do dia a dia podem fazer a diferença”, finaliza Liliane.

O Projetando o Futuro incentivou jovens a refletir sobre seu papel na preservação do meio ambiente e em suas comunidades. O projeto foi alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, com foco nos ODS 4 (Educação de Qualidade), 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e 17 (Parcerias e Meios de Implementação). Além do patrocínio da Ferbasa, contou com o apoio da Secretaria da Educação da Bahia, Núcleos Territoriais de Educação, Secretarias Municipais de Educação e gestão dos colégios.

Em 2024, a AVSI Brasil impactou mais de 3,5 milhões de pessoas por meio de projetos no eixo de Energia e Meio Ambiente, realizados em oito estados — Bahia (BA), Rio de Janeiro (RJ), Piauí (PI), Minas Gerais (MG), Rio Grande do Norte (RN), São Paulo (SP), Pernambuco (PE) — e no Distrito Federal.