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Acolhida e Reconstrução: Novos Horizontes em Terras Brasileiras

Conheça a trajetória de José Alvarez e Vanesa, que encontraram na Casa Bom Samaritano um porto seguro para recomeçar e reconstruir suas vidas com dignidade.

Por: Tayna Silva

A jornada de José Albert Alvarez e Vanesa Salcedo rumo a um novo começo no Brasil não foi planejada. “Não pensávamos em sair, mas a situação no nosso país se tornava cada vez mais difícil. Decidimos buscar um futuro melhor para nossos filhos, especialmente em termos de educação”, conta José. A decisão de deixar Caracas, na Venezuela, com destino a Pacaraima–RR, envolveu meses de incerteza e preparação. Em seis meses, venderam os poucos pertences que tinham. “O que não conseguimos vender, doamos para os mais necessitados. Foi como partir para o desconhecido, sem saber como seríamos recebidos ao cruzar a fronteira”, relembra Vanesa.

De Caracas a Roraima

A viagem ao Brasil durou três dias. José, Vanesa e seus cinco filhos viajaram de ônibus com um grupo de 15 pessoas, incluindo a irmã de Vanesa e sua família. “Foi muito difícil. A alimentação era um grande desafio, e sobrevivemos com refrigerante e pão”, conta Vanesa. A cada parada, enfrentavam a incerteza do que viria a seguir. “As crianças choravam de fome e tentávamos distraí-las. Foi um teste de resistência”, diz José.

Ao chegarem a Pacaraima, a pequena cidade na fronteira, um misto de alívio e apreensão tomou conta da família. “Sentimos a mão de Deus nos guiando. No mesmo dia em que chegamos, fomos acolhidos pela equipe da AVSI. Nos deram comida, atendimento de saúde e iniciaram nosso processo de documentação”, relata José. A burocracia poderia ter sido um entrave, mas, em apenas uma semana, conseguiram seus documentos. “Havia uma multidão de venezuelanos tentando regularizar sua situação. Muitos passavam a noite em filas para conseguir atendimento no dia seguinte”, lembra Vanesa.

Processo de interiorização

Apesar do apoio, seguir com o objetivo inicial era um desafio. José, que é barbeiro, encontrou uma forma de sustentar a família. “Trabalhei por um mês na rua em Pacaraima, cortando cabelo em uma cadeira plástica que comprei”, conta. Depois desse período, foram encaminhados para Boa Vista, onde passaram três meses em um abrigo. “O clima era muito quente, diferente do que estávamos acostumados em Caracas. Houve momentos em que pensamos em desistir”, confessa José. Encontrar um emprego era difícil, especialmente para famílias numerosas. “Famílias menores tinham mais facilidade para conseguir trabalho. Pedimos muito a Deus por uma oportunidade”, acrescenta Vanesa.

A resposta veio com a interiorização para Brasília, por meio da Casa Bom Samaritano. “Foi um momento de muita alegria, pois sabíamos que teríamos uma nova chance”, diz Vanesa. A chegada à nova cidade representou um divisor de águas. “Quando chegamos, agradecemos muito a Deus. O clima era melhor e as instalações eram excelentes. Cada criança tinha sua própria cama, a alimentação era adequada e recebemos capacitação, inclusive aulas de português”, lembra Vanesa.

Acolhida na CBS em Brasília

Desde sua inauguração, em fevereiro de 2021, a Casa Bom Samaritano (CBS) atende famílias migrantes com formação profissional, apoio psicológico, assistência jurídica e acompanhamento em saúde. Com metodologia de cogestão, os acolhidos participam da construção do ambiente e da busca por soluções para sua integração, em parceria com AVSI Brasil, IMDH e CNBB. O espaço tem 94 leitos organizados para garantir privacidade às famílias.

Na Casa Bom Samaritano, a família aprendeu mais sobre a cultura brasileira e recebeu capacitações profissionais, facilitando sua adaptação. “Fomos treinados para o mercado de trabalho, o que foi essencial. As crianças também receberam suporte e puderam ingressar na escola sem dificuldades. Foram bem acolhidas pelos professores e colegas”, conta José.

José Albert e Vanesa sempre tiveram um talento para trabalhar com as mãos. Ele, barbeiro, e ela, cabeleireira, construíram suas carreiras atendendo clientes em Caracas. No Brasil, precisaram recomeçar do zero, mas nunca desistiram da profissão.


Integração Social e oportunidades

Atualmente a família mora em uma casa alugada por eles em Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal, José trabalha em um salão de beleza no centro de Brasília, enquanto Vanesa conseguiu emprego em um espaço de estética. Além disso, ela dedica parte do tempo a ajudar outros migrantes a se adaptarem à nova realidade, oferecendo cortes de cabelo gratuitos e dicas sobre o mercado de trabalho. “Nosso trabalho nos permitiu reconstruir nossas vidas aqui, e agora queremos ajudar outros a fazer o mesmo”, afirma Vanesa.

“Tenham esperança e busquem informação. O Brasil é um país de oportunidades, mas é importante vir pelo caminho certo, por meio de projetos como este. Cada pessoa tem sua própria experiência, e é preciso ter força para enfrentar os desafios”, aconselha José.

Em 2024, a AVSI Brasil beneficiou mais de 100 mil pessoas em seis projetos do eixo Migração e Refúgio em diferentes estados. Desde a gestão de abrigos em Roraima, que acolheu cerca de 69 mil migrantes, até iniciativas de capacitação e requalificação profissional, a organização garantiu proteção, inclusão e novas oportunidades para quem chega ao Brasil. O projeto Acolhidos por Meio do Trabalho viabilizou a interiorização e a inserção no mercado formal, promovendo trabalho decente e crescimento econômico.