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Mulheres que Reconstroem: Esperança e Arte no Caminho de Refugiadas

Aymê Tavares — Roraima

Em Roraima, no norte do Brasil, entre fronteiras e abrigos, nasceu uma resposta corajosa à dor silenciosa de tantas mulheres migrantes: o Projeto MANA — Mulheres Abrigadas Na Arte. Criado em março de 2024, no Dia Internacional da Mulher, o projeto surgiu como um gesto de escuta, acolhimento e, acima de tudo, reconstrução. À frente dessa iniciativa está Angela Masulo, migrante venezuelana que é Oficial de Proteção Comunitária no Abrigo Rondon 5, que decidiu transformar vivências em ação.

Angela conheceu de perto o que significa recomeçar do zero, ela transformou sua trajetória em combustível para criar algo maior. Foi assim que idealizou o MANA, não como mais um projeto assistencial, mas como um espaço de transformação real.

“Não basta acolher. A gente precisa garantir que essas mulheres se sintam vistas, ouvidas e valorizadas”, afirma. Angela estruturou o projeto para que a arte fosse além de uma ação terapêutica, que fosse também uma ponte para a autonomia.

E conseguiu. Oficinas de mandalas, crochê, bijuterias e artesanato se tornaram um escape criativo para as mulheres migrantes e refugiadas que vivem no abrigo Rondon 5,

Maria: As Cores de Quem Renasce

Uma das participantes do projeto, Maria, de 53 anos, aprendeu a transformar a dor em criação e, com isso, reconstruir a si mesma, em seu país Maria era advogada e também foi professora.

O seu envolvimento com a educação dentro do Rondon 5 começou através da sua filha, Maria conta que sua filha pediu para ser acompanhada enquanto estava na biblioteca do abrigo, pois a filha tinha se tornado ponto focal da biblioteca e gostaria da sua companhia durante as tardes que passava responsável pelo espaço.

Foi nesse momento que um novo olhar para o abrigo nasceu, a biblioteca surgiu como um espaço de ensinar e aprender, Maria compartilhou o que já sabia, desde a leitura de livros infantis para as crianças até os momentos de fazer manualidades com as mulheres dos abrigos.

A partir desse novo olhar, Maria pode fortalecer ainda mais o projeto na confecção de bonecas, o projeto lhe deu um sentido: mostrar que mesmo com pouco, é possível fazer muito — e fazer bonito.

“Foi muito bom compartilhar esse momento com minhas companheiras que também fizeram suas bonecas, aqui compartilhamos ideias e produzimos muita coisa bonita”, diz, com os olhos brilhando diante das peças, a cada ponto de crochê, ela costura também uma nova identidade.

O Projeto MANA é hoje o que Angela sonhou: um espaço onde mulheres florescem, onde talentos migram e criam raízes, onde a arte vira ferramenta de resgate, dignidade e renda.

Em cada roda de conversa, em cada oficina criativa, em cada mulher fortalecida, cresce algo que não pode ser apagado: o protagonismo, com a certeza de que, quando a comunidade educa, a esperança deixa de ser promessa — e vira presente.