Por: Tayna Silva — ASCOM
“Eu fui com medo mesmo.” A frase dita com humor e franqueza introduz o início da caminhada de Mateus Nogueira na AVSI Brasil. Cearense de Fortaleza, técnico e gestor ambiental, ele trocou a capital por Umburanas, no sertão baiano, para viver a experiência de ser educador ambiental em um dos projetos de energia da organização. Foi a primeira vez que saiu da casa dos pais. A primeira vez que morou sozinho. E a primeira de muitas transformações.
Mateus entrou na AVSI em 2023 para atuar no eixo Energia e Meio Ambiente, em projetos de mitigação de impactos ligados à implantação de empreendimentos de energia renovável. Em campo, a AVSI realiza ações como educação ambiental, assessoria técnica, escuta qualificada e implantação de tecnologias sociais em comunidades diretamente impactadas por grandes obras. Vinha de uma experiência com o Programa de Educação Ambiental e Saneamento da Prefeitura de Fortaleza, e a vaga na AVSI apareceu como um desafio — profissional e pessoal.
“Eu nunca tinha saído de Fortaleza, morava com os meus pais… e Umburanas era uma cidade bem pequena, completamente fora da minha realidade.”
Ao chegar, encontrou um contexto de emergência. “Era uma cidade emergencial, com poucas políticas públicas funcionando. A educação ambiental da comunidade era bem baixa. Foi um trabalho árduo, dentro do que o licenciamento ambiental da obra exigia.”

Tecnologia social que gera renda — e pertencimento
Entre os projetos mais marcantes da sua trajetória está a implantação do sistema bioágua, que reaproveita a água cinza (proveniente de pias, tanques e chuveiros) para irrigação de hortas.
“Mesmo sendo da área, eu não conhecia. Acompanhei desde a formulação até a instalação. E estava como gerente/educador. Tive que aprender muito mais sobre a tecnologia para repassar.”
O sistema foi implantado com uma associação de mulheres em Ourolândia (BA). “Hoje elas conseguem tirar uma renda, montar uma estrutura, e tocam sem a gente em campo. Dizem que a gente deu o pontapé inicial. Foi um grande desafio, mas também uma das maiores surpresas e felicidades minhas como profissional da educação ambiental.”
A trajetória de Mateus dentro da AVSI Brasil se desenhou rápido. Depois de passar pelos complexos Aroeira e Pedra Pintada como educador ambiental, foi convidado para ser gerente de projetos em Pedra Pintada. E, com o fim do contrato, foi recontratado como consultor PJ para dar continuidade aos programas, a pedido do cliente.
Atualmente, Mateus está à frente do projeto Arinos, um dos maiores complexos solares do Brasil, em Minas Gerais. Além disso, ele assumiu temporariamente a coordenação operacional de quatro projetos em três estados.
“Em janeiro, fui chamado novamente, agora para Minas. Aqui é solar, diferente dos projetos eólicos que eu estava acostumado. E, nesse meio tempo, ainda estou cobrindo uma colega na coordenação operacional de outros projetos na Bahia, Paraíba e aqui em Minas.”
Desenvolvimento que também é pessoal
A AVSI Brasil atua com o princípio da centralidade da pessoa — e isso vale também para quem faz parte da equipe. Para Mateus, trabalhar em campo exige mais do que formação técnica. É preciso escuta, empatia e capacidade de adaptação.
Um exemplo foi uma oficina sobre reaproveitamento de alimentos: “A gente ensinava receitas com cascas e folhas, e muitas mulheres choraram, porque às vezes nem o alimento inteiro tinham em casa. É ali que a gente entende o real sentido de fazer educação ambiental com propósito.”
Mateus também destaca o quanto sair da sua bolha foi fundamental. “Hoje dou muito mais valor para coisas pequenas. Um banho com água limpa. Um lazer simples. E vejo como a sustentabilidade não é só a palavrinha verde — ela precisa estar em tudo.”

O que significa fazer parte da AVSI Brasil?
“Hoje, para mim, é contribuir para que as pessoas consigam se enxergar como importantes e possam se desenvolver. Nosso interesse não é levar tecnologias gigantescas que depois ninguém toca. É olhar para a comunidade e ver o que ela pode fazer com o que já tem.”
E como Mateus se vê no centro do seu próprio desenvolvimento?
“Eu me vejo sendo desafiado todos os dias. Sempre uso essa frase: quando eu disse sim, eu disse sim pra tudo que eu podia. E eu podia muito mais do que eu sabia. Isso é uma música. E é verdade. A AVSI me mostrou isso.”