Por Cauã Peres (RR)
A Rádio La Voz de los Refugiados realizou, em Boa Vista (RR) a sua terceira capacitação de voluntários, reunindo 30 migrantes e refugiados dos abrigos administrados pela AVSI Brasil. A formação, que incluiu visitas à Rádio Assembleia e à TV e Rádio Universitária da UFRR, além de encontros com profissionais como Paulo César Reis e a professora Lisiane Aguiar aconteceu para fortalecer a comunicação comunitária dentro dos abrigos e preparar novos comunicadores para apoiar a circulação de informações essenciais na Operação Acolhida.
Uma capacitação que começa com o descobrimento de novas vozes
A capacitação começa muito antes das visitas e das aulas: começa no processo de identificar perfis, ouvir histórias e reunir pessoas que queiram apoiar a comunicação comunitária dentro dos abrigos onde vivem. Quando finalmente chegou o primeiro dia, o grupo já tinha expectativas e vontade de aprender. Pela manhã, visitaram a Rádio Assembleia, e pela parte da tarde, conheceram a estrutura da TV e da Rádio Universitária da UFRR. Mais do que apenas conhecer os espaços, o objetivo era permitir que cada voluntário entendesse, na prática, como a comunicação se organiza e qual impacto ela produz na vida de uma comunidade inteira.
“O momento que mais impactou o grupo foi quando eles entraram nos estúdios e puderam ver de perto os equipamentos profissionais, a dinâmica de operação e a rotina da emissora. Muitos se surpreenderam ao perceber que, apesar da alta tecnologia, o trabalho depende profundamente da colaboração, organização e criatividade da equipe. Outro ponto que gerou grande comoção foi nossa conversa sobre o papel social da Rádio e Televisão Universitária. Ao falarmos sobre o uso da comunicação para fortalecer comunidades e dar voz a grupos vulneráveis, ficou claro que muitos se reconhecem nesse propósito. Eles perceberam que o trabalho que realizam na rádio comunitária tem valor e impacto reais”, conta, conta Paulo César Reis (Paulinho), diretor da Rádio e Televisão Universitária – RTV/UFRR.
As visitas abriram caminho para uma formação construída de modo efetivo, em que as experiências se tornaram tão importantes quanto o aprendizado técnico.

A Rádio La Voz de los Refugiados é um projeto desenvolvido atualmente pela AVSI Brasil em parceria com Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) para fortalecer a circulação de informações essenciais dentro dos abrigos administrados pela AVSI Brasil. A iniciativa integra a resposta humanitária da Operação Acolhida. A rádio é desenvolvida em parceria com voluntários migrantes e refugiados, levando conteúdo educativo, cultural e informativo, além de combater a desinformação e fake news, sempre se preocupando com o bem-estar, integridade e proteção da comunidade acolhida.
A presença da rádio e todas suas iniciativas de comunicação comunitária tornou-se uma força fundamental entre informação e a participação ativa. Por isso, a capacitação tem um peso especial na vida dos voluntários.
Segundo Aymê Tavares, analista de comunicação da AVSI Brasil, a capacitação mostra na prática como a comunicação comunitária é uma ferramenta poderosa dentro dos abrigos. “A rádio e as carteleiras digitais aproximam a comunidade das informações que impactam o dia a dia, dão espaço para que migrantes e refugiados contem suas próprias histórias e participem ativamente da construção do lugar onde vivem. Mais do que ensinar técnicas, essa formação reforça que todo mundo tem uma voz que importa”, ressalta.

Do surgimento do rádio ao fortalecimento da comunidade
No segundo dia de capacitação, os participantes tiveram uma tarde de conversa e prática dedicada à história do rádio, o propósito do projeto e à importância da comunicação dentro dos abrigos. Foram abordados temas como a missão da rádio comunitária, técnicas de gravação, como se comunicar com clareza e respeito e o papel dos voluntários para que a rádio se mantenha viva e relevante.
O encontro também foi um momento de troca: histórias pessoais, motivos para participar da rádio e expectativas para o futuro do projeto surgiram com naturalidade e emoção.
O terceiro dia marcou o encerramento da formação e foi dedicado a uma conversa com a professora Lisiane Aguiar, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima. Em sua palestra, ela falou sobre comunicação assertiva e não violenta, destacando a importância de construir diálogos que acolhem, escutam e fortalecem a comunicação em espaços de convivência.
“A Comunicação Não Violenta (CNV) e a comunicação assertiva (CA) são ferramentas que podem transformar profundamente a atuação dos voluntários, gerenciar conflitos de forma construtiva em vez de evitar conflitos. A CNV ensina a encará-los como oportunidades de aprofundar a compreensão. Voluntários podem mediar desentendimentos focando nos sentimentos e necessidades de todas as partes, transformando a adversidade em um ponto de colaboração e não de afastamento. Ao utilizar uma comunicação que valida o outro e reconhece sua dignidade, os voluntários constroem um ambiente de confiança. A qualidade do contato humano determina o destino das relações e uma comunicação compassiva e assertiva eleva a qualidade desse contato ao fortalecer a confiança e a dignidade”, comenta Lisiane Aguiar.
Encerramento: 30 vozes prontas
Ao fim da formação, os novos voluntários receberam seus certificados e celebraram não apenas o fechamento de uma capacitação, mas também uma nova etapa dentro dos abrigos. Alguns querem apresentar programas, outros gravar conteúdos culturais, educativos e de entretenimento, mas todos saíram com a mesma certeza: suas vozes podem informar, unir e ajudar a todos dentro e fora dos abrigos.
Com 30 novos voluntários formados, a terceira edição da capacitação reforça o compromisso da AVSI Brasil em fortalecer o protagonismo de quem vive nos abrigos, contribuindo para novos caminhos de oportunidade e desenvolvimento.
