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No dia mundial da alfabetização, idosos mostram que aprender é um direito sem idade

Em Roraima, Russ, Aurélio e Cipriana mostram que aprender e ensinar é possível em qualquer fase da vida.

Aymê Tavares – Roraima

Em comemoração ao Dia Mundial da Alfabetização, histórias de superação e esperança ganham destaque nos abrigos de acolhimento de migrantes e refugiados em Roraima. Nos abrigos Rondon 5 e Janokoida, pessoas que enfrentaram rupturas de vida encontram na EJA (Educação de Jovens e Adultos) uma chave para o recomeço, a dignidade e o propósito.

Com 79 anos, Russ Del Valle Romero Bolívar, ex-professora na Venezuela, agora reside no Abrigo Rondon 5, em Boa Vista. Apesar da idade avançada, seu sonho é retomar os estudos para poder ensinar outras idosas e crianças da comunidade, especialmente o português, idioma que ela agora aprende com dedicação.

Russ Del Valle, conta que grande parte da sua vida foi dedicada a dar aula para crianças na Venezuela, e que agora vivendo no Brasil sente que é tempo de recomeçar. “Ensinar sempre foi minha missão. Aqui, quero continuar contribuindo na comunidade em que vivo, aprendo português para mim, mas principalmente para transmitir para os outros”, destacou.

O abrigo Rondon 5 conta com cerca de 32 pessoas matriculados no EJA, entre eles homens e mulheres com desejo profundo de retomar os estudos no Brasil, todos os dias, os estudantes saem juntos em direção à escola.

Para tornar possível a permanência dos estudantes na escola, os fardamentos das escolas municipais de Boa Vista, são fornecidos pela Prefeitura Municipal e entregue anualmente aos alunos da rede. Os kits variam de acordo com o nível de ensino.

Também no Rondon 5, Aurelio Del Valle, de 72 anos, enxerga na EJA uma nova forma de viver, ele conta que soube dessa oportunidade de estudar através da equipe do abrigo e que por curiosidade foi buscar mais informações a respeito.

 “Descobri o EJA por acaso, por curiosidade, e agora eu e minha esposa estamos matriculados na escola e gostando muito de tudo que estamos aprendendo, agora a gente tem mais motivos para continuar”, pontuou.

Com 30 alunos matriculados em cada abrigo, o EJA tem se mostrado essencial para a inclusão de migrantes e refugiados, especialmente idosos e povos indígenas. A modalidade respeita o plurilinguismo, valoriza os saberes culturais e cumpre o que prevê a Lei de Migração brasileira: o direito à educação como instrumento de dignidade e cidadania.

No Abrigo Indígena Janokoida, Cipriana Del Carmen Morrilo, de 63 anos, da etnia Carinã, reafirma o poder transformador da educação. Apesar das barreiras linguísticas e culturais, Cipriana abraça os estudos com entusiasmo.

“Meu maior incentivo é pensar que posso ensinar nossas crianças, preservar nossa cultura em um país novo, mas principalmente aprender e compartilhar o que a gente sabe”, afirma.

Neste Dia Mundial da Alfabetização, as histórias de Russ, Aurélio e Cipriana lembram que educar é também reconstruir vidas. Mostram que a idade, a origem ou a condição de deslocamento não são barreiras para o aprendizado, e que, muitas vezes, o verdadeiro recomeço começa com uma única letra, uma palavra, um desejo de ensinar.

A missão da AVSI Brasil continua guiada pelo foco na centralidade da pessoa para o desenvolvimento e autonomia, assim, contribuindo para a vida de cada pessoa apoiadas por meio de ações e projetos, sendo um passo a mais na construção de um mundo mais humano e acolhedor.

Apoiar recomeços como esses são possíveis graças a parcerias com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), a Força Tarefa Logística Humanitária (FT-LogHum) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).