Por: Aymê Tavares – Roraima
Há 8 anos, Maria Celeste ao chegar ao Brasil tinha apenas sua mala e um sonho: encontrar a dignidade em meio à adversidade. Dormindo por oito meses em uma barraca no quintal de um desconhecido que lhe ofereceu abrigo, ela mal sabia que essa experiência seria o ponto de partida para uma trajetória marcada por superação, empatia e liderança. Hoje, aos 40 anos, Maria é coordenadora operacional da AVSI Brasil em Pacaraima, onde supervisiona dois grandes espaços de recepção e acolhimento que impactam diretamente milhares de vidas.
Durante os primeiros meses no Brasil, ela enfrentou desafios que poucos conseguiriam suportar. Grávida e longe de casa, ela encontrou refúgio no trabalho voluntário, feito através da Pastoral de Migrantes.
“Ajudava o Padre Jesus no café da manhã que ele dava para os migrantes. Era pouco, mas era o que eu podia fazer, passei as mesmas dificuldades de todo migrante, mas ainda estava em uma situação em que podia e queria ajudar quanto eu pudesse”, lembra Maria Celeste.
Sua dedicação rapidamente se destacou, e logo se tornou a organizadora da Pastoral de Migrantes, onde atuava na pré-documentação de solicitações de refúgio e residência. Foi nesse período que conheceu o trabalho da Operação Acolhida e da AVSI Brasil. Determinada a ampliar seu impacto, Maria Celeste tentou seis vezes ingressar na organização.
“Eu queria muito trabalhar na AVSI porque sabia que lá poderia aumentar essa ajuda que eu já dava na pastoral”, comentou. Em uma das tentativas, conseguiu entrar na organização e assumiu o cargo de Oficial de Proteção.
Maria Celeste iniciou sua caminhada na AVSI em novembro de 2019, liderando uma equipe de cinco pessoas no PTRIG (Posto de Recepção e Triagem) de Pacaraima.
“Era o início do projeto, então foi um período de muitos erros e acertos. Nunca tinha sido feito no Brasil um acolhimento dessa dimensão, e nós conseguimos fazer o melhor que podíamos.”
Mas os verdadeiros testes vieram com a pandemia de COVID-19. Quando se tornou coordenadora interina do BV8, e onde 14 membros de sua equipe testaram positivo, apenas cinco pessoas — incluindo Maria — permaneceram ativas.

Legenda: Maria com mais três membros da sua equipe nas escadas do abrigo BV-8
Para lidar com o isolamento social e manter os beneficiários informados, Maria e sua equipe criaram uma rádio comunitária. “Nos reinventamos. Fazíamos programas ao vivo para que as pessoas pudessem participar sem correr riscos.” Essa estratégia inovadora fortaleceu os laços com a comunidade e garantiu que o distanciamento fosse respeitado.
Em 2021, Maria Celeste foi promovida a coordenadora do abrigo BV-8. Sob sua liderança, o abrigo operou com a capacidade máxima, um reflexo do intenso fluxo migratório na região.
“Foi uma caminhada extremamente gratificante. Saber que pude fazer ainda mais pelas pessoas, aumentei meu compromisso e minhas responsabilidades, de responsável por uma equipe de cinco pessoas para liderar mais de 40, foi algo que me encheu de orgulho.”
Um dos pontos mais marcantes da sua trajetória foi coordenar o abrigo indígena Janokoida em 2023, trabalhar com populações indígenas lhe trouxe aprendizados profundos.
“Uma vez, ouvi de um beneficiário que uma das melhores coisas que aconteceu com eles no Brasil foi ter me conhecido e ter contado com o nosso trabalho como organização. É gratificante saber que estamos fazendo diferença.”
Durante esse período, ela ouviu que a verdadeira grandeza está na humildade das pessoas, e desde então carrega essa sabedoria consigo.
Atualmente de volta ao BV-8, Maria Celeste reforça seu compromisso com o acolhimento. “Como coordenação, acredito que nesse abrigo é aqui onde os sonhos começam a se tornar realidade para quem vem de uma caminhada de migração”, conta.
A AVSI Brasil integra a resposta federal ao fluxo migratório venezuelano por meio da Operação Acolhida, gerenciando em Pacaraima o alojamento de trânsito BV-8, e atuando dentro do Posto de Recepção e Triagem.
Maria Celeste segue firme em sua missão, com muito amor e dedicação. Ela tenta tornar todos os dias a vida de migrantes e refugiados um pouco mais fácil, já que para ela, deixar o mundo melhor é um dever de todos.
