Por: Cláudio Trindade
Desde 2018, milhares de refugiados e migrantes venezuelanos tem se deslocado de seu país de origem rumo ao Brasil. Com poucos recursos e muita vontade de crescer, as famílias chegam ao país pela região de fronteira em Santa Elena de Uairén (Venezuela) e Pacaraima (Brasil). A partir dali, conseguem seguir para outras regiões do país e retomar suas vidas, mas ainda precisam lidar com uma barreira pessoal: a aprendizagem da língua portuguesa.
Durante esse percurso de integração, a venezuelana Flor Edilia sentiu as dificuldades na comunicação no novo idioma e contou com o apoio da AVSI Brasil, no projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho, e da Operação Acolhida, para a promoção da educação e oportunidades por meio de cursos no Centro de Capacitação e Educação (CCE), em Boa Vista (Roraima).
Sendo um espaço dedicado para a aprendizagem e qualificação profissional de refugiados e migrantes venezuelanos, Flor Edilia deu mais um passo na jornada de conhecimento ao participar do Curso de Português (nível intermediário), com carga disciplinar de 60 horas, realizado no CCE. Implementado em parceria com o Centro de Formação Inspire Rebeca, o curso foi concluído ao final de maio com a formação educacional de 19 alunos.
“A comunicação em português é algo muito importante e participar do curso foi um desafio pessoal, mas muito gratificante. Aprender o idioma abre portas de trabalho no Brasil e posso me comunicar melhor com outras pessoas. Eu me sinto muito grata pelo projeto Acolhidos por disponibilizar esse curso”, comenta Flor.

O curso compõe as atividades estratégicas voltadas para a integração socioeconômica da população venezuelana abrigada em Boa Vista, a partir do aperfeiçoamento da língua portuguesa. A jornada de aprendizagem do idioma promove um maior entendimento da legislação brasileira, acesso a serviços, oportunidades de emprego e a adaptação cultural da região.
“Sigo aprendendo o idioma, porque quero poder ensinar os meus filhos. Quero poder compartilhar desse conhecimento para que eles também possam se comunicar em português com as pessoas e terem boas oportunidades, assim como eu”, relata Flor, inspirando a educação em seu núcleo familiar.
Segundo o relatório de avaliação do projeto Acolhidos (disponível aqui), a proficiência em português é uma variável que impacta a empregabilidade, uma vez que pessoas com proficiência mediana-alta no idioma apresentaram chance 7,8 vezes maior de ter tido uma experiência de trabalho no Brasil do que aquelas com proficiência mediana-baixa.
É através desse conhecimento que famílias venezuelanas superam essa barreira linguística e, ainda, potencializam a integração local ou a interiorização (deslocamento voluntário realizado pela Operação Acolhida).

“Muitos alunos que completaram algum dos cursos de português no CCE foram interiorizados para outras localidades do Brasil já contratados com carteira assinada e outros conseguiram empregos em Boa Vista mesmo, revelando que com a aprendizagem da língua essas pessoas conseguem seguir seus caminhos e se integrarem no país”, destaca Jéssica Monteiro, coordenadora local do projeto Acolhidos em Roraima.
SOBRE O CCE
Desde a criação do CCE, em 2022, já foram qualificadas 1.258 pessoas em cursos de português, sendo 1.047 a nível básico, 195 em nível intermediário e outras 16 no avançado. O espaço é administrado em cogestão entre AVSI Brasil e a Força-Tarefa Logística Humanitária (FT Log Hum) da Operação Acolhida.
Desde junho de 2018, a AVSI Brasil atua na gestão de centros de acolhida e assistência à população venezuelana em Roraima. Em 2019, passou a implementar o projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho, que visa facilitar a integração socioeconômica de migrantes e refugiados venezuelanos no Brasil, além de atender uma parcela da população brasileira em situação de vulnerabilidade.